A Fraternidade Carmelitana com a finalidade de “buscar a perfeição cristã e dedicar-se ao apostolado, oferecendo a própria oração e os próprios sacrifícios por intenção da Igreja, participando no meio do mundo do carisma da Ordem do Carmo, com o propósito de viver segundo o Evangelho, no espírito da Ordem dos Irmãos da Bem-aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo” (OCS n. 50).

Como nos apresenta o Frei Joseph Chalmers, O.Carm., “um carisma é um dom de Deus para a Igreja e para o mundo. Uma vez que ninguém pode esgotar as riquezas de Cristo, que é a imagem perfeita de Deus (2 Cor. 4, 4), cada carisma existente na Igreja exprime um aspecto da missão de Cristo na proclamação da Boa Nova e, através da Sua morte e ressurreição, a missão de reconciliar a humanidade inteira com Deus.

O carisma carmelita não é propriedade exclusiva da Família Carmelita; nós somos depositários e temos o sagrado dever de o transmitir às gerações futuras e de o partilhar com as pessoas com quem convivemos. Naturalmente, cada geração deixa a sua marca no carisma pela maneira como o entende e o vive.

Que espécie de marca deixaremos nós?

Nos anos sessenta, o Concílio Vaticano II exortou todas as Ordens Religiosas a reexaminar as suas origens e a compreender melhor o ímpeto inicial da sua fundação. Não se encontra, nos princípios da Ordem Carmelita, um fundador famoso, mas um grupo de homens que chegaram ao Monte Carmelo de várias partes da Europa e que procuraram viver em obséquio de Jesus Cristo na terra onde Ele próprio viveu e morreu. Mais tarde, este grupo, desejoso de uma estrutura formal e de um reconhecimento oficial por parte da Igreja, pediu a Alberto, Patriarca de Jerusalém, que lhe redigisse uma fórmula de vida adaptada a eles. Ele acolheu o pedido dos eremitas entre 1206 e 1214 e este documento foi aprovado como “Regra” pelo Papa Inocêncio IV, em 1247, com algumas pequenas modificações que permitiram aos eremitas carmelitas viver como frades no meio do povo.

Esta Regra é inspiração para muitas e variadas formas de vida carmelita no mundo de hoje. A Ordem do Carmo, como a maior parte dos grupos religiosos antigos, atravessou momentos escuros e momentos de luz na história da sua vida. Os Carmelitas Descalços formam outro grande ramo do mesmo tronco e, hoje, as duas Ordens mantêm excelentes relações e estão em diálogo contínuo.

Oração, Fraternidade e Serviço

O Carmelo centra-se em Jesus Cristo, a quem nós seguimos e nos empenhamos em servir. Os grandes modelos da nossa forma de vida são a Virgem Maria e o profeta Elias. Com eles temos também a inspiração dos grandes santos do Carmelo: Santa Teresa de Jesus, São João da Cruz, Santa Maria Madalena de Pazzi, Santa Teresinha do Menino Jesus, o Beato Tito Brandsma e muitos outros. O valor central do carisma carmelita é a contemplação entendida como uma íntima relação com Deus em Jesus Cristo, que transborda numa vida de oração e fraternidade, na qual procuramos servir o nosso próximo conforme os nossos dons particulares e a nossa vocação. A contemplação não é somente algo para alguns cristãos; todos somos chamados a ser íntimos amigos de Deus e a nossa amizade com Deus produzirá efeitos notáveis na vida quotidiana. Não podemos amar a Deus, a quem não vemos, se não amamos o nosso próximo, que vemos (1 Jo. 4, 20). Por isso os Carmelitas exprimem o seu amor a Deus em qualquer tipo de serviço ao seu próximo e procuram seriamente viver em harmonia com os seus irmãos e irmãs. A Família Carmelita compreende religiosos e religiosas que se dedicam ao apostolado e vivem em comunidade, monjas de clausura que vivem a sua vocação em comunidade de vida, de oração e de sacrifício pelo bem do mundo, eremitas e muitos leigos que vivem em famílias ou sozinhos. Tentamos viver os valores da oração, da fraternidade e do serviço, conforme a nossa vocação particular.

Quando iniciamos seriamente uma relação com Jesus Cristo, esta nos levará a um processo de transformação. Gradualmente, mudará o modo como percebemos a realidade e vivemos no mundo. As vezes, esta mudança pode ser dolorosa, porque nos vemos realmente como somos, não como pensamos que somos, mas este sofrimento transformar-se-á em alegria, quando, pouco a pouco, nos convertermos naquilo que Deus sabe que podemos ser.

A Virgem Maria e o profeta Elias

Todos nós Carmelitas encontramos na Virgem Maria a nossa Mãe e Irmã, que nos acompanha ao longo de toda a vida e continuamente nos mostra, com o seu exemplo, como conservar tudo o que nos acontece, de modo que possamos discernir a presença e a ação de Deus na nossa vida (cfr. Lc. 2, 19). Ela teve e tem a mais íntima relação com Jesus e anima-nos a estar junto d’Ele e a fazer tudo o que Ele manda (Jo. 2, 5). Ela é o modelo da bem aventurança “felizes os puros de coração”, e ensina-nos a reconhecer as nossas motivações e a pô-las de acordo com os valores do Evangelho.

Também o profeta Elias, uma das grandes figuras do Antigo Testamento, é, na sua experiência de Deus e na sua atividade profética, uma inspiração para todos os Carmelitas; no monte Horeb encontrou a Deus no silêncio (1 Re. 19, 12), em Israel denunciou a injustiça e demonstrou o vazio da idolatria. Os Carmelitas procuram a presença de Deus neles mesmos e ajudam outros a descobrir esta mesma presença na própria vida e assim a fugir das redes dos numerosos ídolos modernos que escravizam o coração do homem.

O futuro

O novo milênio orienta as nossas mentes para o futuro e para os desafios que enfrentaremos. Os Carmelitas continuarão a servir a Igreja e o mundo com vários tipos de apostolado. A fonte de toda a atividade deve ser o resultado de uma relação viva com Jesus Cristo, que se mostra no desejo de servir o povo de Deus.

Nossa Senhora do Carmo nos guie para a montanha santa, que é Cristo Senhor, porque só nEle encontraremos a nossa verdadeira felicidade. Desejo que todos os membros da Família Carmelita sejam fiéis ao carisma que Deus nos deu para o serviço da Igreja e do mundo.

Fonte: Revista “Os Carmelitas” do Centro Internacional de Informação da Ordem do Carmo (CITOC) – Roma – Itália.