Frei Tiago Evaristo, O. Carm
As constantes mudanças pelas quais o mundo tem passado – mudanças essas que ocorrem de modo acelerado, nas mais variadas áreas – têm gerado uma grave crise de valores, a qual estamos vivendo. Além disso, essa grande inconstância do mundo tem influência também no nível de maturidade de nossos jovens e até mesmo de muitos adultos. Como saber se estamos crescendo na maturidade ou não?
O grande problema da nossa humanidade é justamente o modo como estamos usando o nosso livre arbítrio, a nossa liberdade. Ser livre, para muitos hoje em dia, é achar que tudo é permitido, confundindo, assim, liberdade com libertinagem. Isso só gera egoísmo e designa a pessoa imatura, com atitudes e comportamentos infantis e adolescentes, vivendo escravizada por paixões, instintos, emoções, sem respeito a pactos familiares, leis sociais, religiosas, enfim, numa constante dependência que a desumaniza cada vez mais. Uma pessoa imatura é aquela que não superou suas carências humanas (biológicas, psicológicas e espirituais), e não trabalha em vista disso, mas fecha-se em si mesma, não se importando com mais nada a não ser com seu próprio mundo. No entanto, não foi para isso que Deus nos chamou.
De modo geral, quanto mais uma pessoa cresce e torna-se adulta, mais ela é capaz de responder por sua própria conta e maduramente a suas necessidades ou carências. O homem e a mulher que atinge a maturidade adulta, mesmo continuando com suas carências – naturais a todo ser humano – sabe controlá-las e até mesmo orientá-las em vista do amor aos outros, aos familiares, à comunidade.
Deus nos fez livres e deu-nos a capacidade de escolha, de optar por este ou aquele caminho, de tomar esta ou aquela decisão e de selecionar entre o bem e o mal. O ser humano adulto e maduro sabe limitar o uso de sua liberdade, de suas escolhas em vista de compromissos e exigências que derivam de decisões tomadas, de projetos de vida assumidos. Sua capacidade de escolha fica, portanto, orientada pela fidelidade de uma vida empenhada com alianças, amizades, relações familiares, serviços comunitários, enfim, pela fidelidade a uma opção fundamental.
A maturidade resulta num sentimento de obrigação moral; numa fidelidade que leva o ser humano maduro a viver num paradoxo: ele ou ela é livre, mas ao mesmo tempo não é, pelas escolhas tomadas no decurso de sua vida. Porém, é uma obrigação moral que não escraviza, mas que torna ainda mais livre. É uma obediência fiel que implicará sacrifícios, renúncias, perdas, lutas, mas tudo isso em vista de bens mais preciosos, como por exemplo, o respeito à dignidade humana, a paz, a justiça social.
Essa obediência fiel caracteriza a liberdade como liberdade de espírito, presente naquelas pessoas que usam do seu livre arbítrio para fazer o bem, para viverem segundo o espírito, para serem pessoas doadas, mais voltadas para os outros que para si mesmas. A obediência fiel é próprio de quem está no caminho da maturidade. E foi para isso que Deus nos chamou…
Baseado no artigo “Deus Pai e o Sofrimento do Mundo”, do Pe. Vitor Galdino Feller. Revista Encontros Teológicos n. 26. Ano 14, n. 1, Florianópolis, 1999. pp. 22-24.